O CDS-PP assume que este é «o orçamento mais exigente, de austeridade e
de rigor, com que alguma vez a democracia de confrontou», mas garante também
que é um dos documentos «mais condicionados que um Governo da República alguma
vez teve de apresentar ao Parlamento».
E, mesmo assim, disse esta terça-feira o
deputado Telmo Correia, nas declarações finais sobre a proposta de Orçamento,
no Parlamento, o objetivo do CDS-PP vai ser cumprido: «Que o Orçamento saísse
melhor do que entrou», referindo-se à redução da sobretaxa em 0,5%. «Dirão
que não é uma enorme diferença: é verdade. Mas é mais do que nada, ainda que
menos do que deveria ser».
No discurso do democrata-cristão, o
Tribunal Constitucional não escapou às críticas, por não ter aceite o corte
de dois subsídios aos funcionários públicos, e Telmo Correia optou por
justificar porque o CDS-PP vota a favor: «A nossa consciência e sentido de
responsabilidade determinam a aprovação do Orçamento. Não podíamos ter uma
crise orçamental em cima de uma crise política».
«A instabilidade orçamental levaria
inexoravelmente ao fim do financiamento, à impossibilidade de pagar salários
e, no limite, à saída do euro», argumentou ainda o vice-presidente da bancada
do CDS-PP.
«É por isso e não por outra qualquer
razão de ordem política ou tática que a nossa consciência e o nosso sentido
de responsabilidade determinam a aprovação do Orçamento. Não podíamos em cima
de uma crise económica, financeira e social, ter uma crise orçamental e
política».
Para Telmo Correia, a opção não era
viável: «Era muito pior não ter orçamento».
Nuno Magalhães:
Intervenção de Telmo Correia foi a declaração de voto do CDS-PP
O líder parlamentar do CDS-PP afirmou,
após a votação e aprovação do OE2013, que a intervenção do deputado e
vice-presidente da bancada, Telmo Correia, funcionou como uma declaração de
voto dos democratas-cristãos sobre o documento.
"Aquilo que o senhor deputado Telmo
Correia disse, na minha opinião, de uma forma bastante boa, foi aquilo que
foi a linha de discurso e raciocínio do partido e, nesse contexto, é
evidentemente a declaração de voto que o CDS-PP enquanto partido e grupo
parlamentar gostaria de fazer”.
O Orçamento do Estado para 2013 foi esta
terça-feira aprovado com os votos a favor do PSD e do CDS-PP e os votos
contra do PS, PCP, Bloco de Esquerda e do deputado do CDS-PP Rui Barreto.
Fonte: Agência Financeira
Na íntegra a
intervenção de Telmo Correia:
Senhora Presidente
Senhor Primeiro-ministro
Senhores membros do Governo
Senhoras e senhores Deputados
O Parlamento votará em breve um dos
Orçamentos de Estado mais difíceis, mais exigentes e de maior austeridade e
rigor com que a Democracia portuguesa, alguma vez se confrontou.
Não esquecemos hoje, como não esquecemos
no passado, que este é também, um dos Orçamentos mais condicionados que um
Governo da República alguma vez teve de apresentar ao Parlamento.
Condicionado, desde logo, pelo Memorando
de Entendimento, Memorando esse, que, convém lembrar, resulta de uma situação
de pré bancarrota a que o nosso país foi conduzido em 2011. Ao longo de seis
anos de Governo do PS e de José Sócrates o país, cujas dificuldades
estruturais são conhecidas e não devem ser ignoradas, viveu a ilusão do
aumento dos funcionários públicos em 2009, porque havia eleições, bem como as
sucessivas promessas, de novos aeroportos, TGV’s e travessias, e até a
inauguração de aeroportos com 1.500 passageiros por ano, como o de Beja, ou
seja, para um aeroporto – menos de cinco passageiros por dia.
Já sei, que nos dizem agora e são
secundados por muitos comentadores, que é tempo de não falar no passado. Tudo
bem, seja. Mas tenhamos a noção de que com este Orçamento e a sua austeridade
não estamos a fazer mais do que a pagar a fatura e a conta de anos de
despesismo e endividamento.
Condicionado também pela decisão do
Tribunal Constitucional, que respeitamos, mas que desequilibrou
indiscutivelmente o Orçamento, forçando a uma solução de 80% de receita para
20% de corte na despesa, em termos de consolidação. Não é o desejável e sem
esta condicionante teríamos uma relação de 60 para 40, o que não sendo o
ideal, nem cumprindo o memorando, era mais aceitável.
Não ignoramos, e sempre dissemos, que a
consolidação é tão mais virtuosa quando se faça pelo lado da despesa e não da
receita.
Condicionado ainda, pela enorme divisão
que o debate sobre a TSU lançou na sociedade portuguesa e pelo esforço que
foi necessário para evitar essa fratura.
Estamos assim perante um orçamento
condicionado, difícil, mas em que o Governo conseguiu, apesar dessas
dificuldades, demonstrar a existência de cortes ao nível da despesa na ordem
dos 2.800 milhões de euros. Como demonstrou que existem, ao nível da balança
comercial das taxas de juro e, sobretudo, das exportações, indicadores que
são positivos.
Não nos enganemos. Neste Orçamento, como
em qualquer outro, a relação entre a despesa e a carga fiscal é direta: ou
seja, só reduzindo a primeira, seria possível ter menos pressão fiscal.
Cabia por isso aos partidos políticos
apresentarem propostas de redução de despesa. Da parte da oposição onde estão
essas propostas? Nada, não apareceram, zero.
A única proposta que ouvimos ao maior
partido da oposição foi a tão discutida taxa sobre as PPP’s. Quando o
Orçamento reduz em cerca de 250 milhões de euros os encargos das PPP’s, o
maior partido da oposição sugere uma taxa de 20% sobre o lucro. Não é
extraordinário?
Em primeiro lugar, convém perguntar –
onde é que está o lucro? É que não está. Não há lucro!
Poderíamos também perguntar, quem
inventou as SCUT’s, senão o PS? E quem negociou a maioria das PPP’s, senão o
Governo que nos antecedeu? Mais uma vez, é tudo parte da conta e da fatura.
Em segundo lugar, esta proposta põe em
causa cláusulas que o próprio Partido Socialista negociou e teriam como
resultado final aumentar ainda os custos das PPP’s.
Em matéria de PPP’s o PS age como quem
causa um incêndio, obriga-nos a chamar os bombeiros, cobra pelos bombeiros e
no fim, lança um imposto sobre casas ardidas. É o mal e caramunha.
Mais do que esse passado que tanto onera
o nosso presente, e condiciona o nosso futuro, o CDS-PP sempre disse que,
hoje, nos trabalhos da especialidade que agora se encerram, tínhamos como
objetivo que o Orçamento saísse deste Parlamento melhor do que aquilo que
entrou. Para isso, só havia um caminho possível: tentarmos, além do que já
tinha sido feito no passado, um esforço adicional, urgente e redobrado de
cortes na despesa e, com isso, procurar reduzir a sobretaxa a que os
portugueses vão estar sujeitos.
Temos consciência de ter feito esse
esforço, como temos consciência de ter trabalhado afincada e empenhadamente
para, enquanto Deputados e Grupos Parlamentares da maioria, ter procurado,
ainda que com diferenças, contribuir para que assim fosse.
Em relação ao Orçamento que aqui entrou
no dia 15 de outubro, a sobretaxa foi reduzida em meio ponto percentual.
Dirão que não é uma enorme diferença, e é verdade. Mas corresponde ao
compromisso que tínhamos de tentar moderar a pressão fiscal.
Meio ponto é mais do que nada, ainda que
menos do que deveria ser.
Este é, por isso, o Orçamento que nesta
conjuntura, nestas circunstâncias e neste momento, é o Orçamento possível.
É também um Orçamento condicionado pelo
reescalonamento fiscal, mas em que foi possível encontrar soluções menos
penalizadoras para os trabalhadores independentes.
Fizemos esse esforço, e fizemo-lo em
conjunto, enquanto as bancadas que tanto criticam, nada apresentaram, e em
nada contribuíram para resolver as dificuldades, de que passam a vida a
falar.
Temos também consciência da penalização
que este Orçamento representa para aquele que é o eixo central de uma
qualquer sociedade saudável, a sua classe média. Mas temos consciência de que
a nossa primeira responsabilidade era a de garantir que haja Orçamento.
Não existindo um Orçamento, não
respeitando os nossos compromissos perante o Memorando e os credores, o que
aconteceria? Rasgando o Memorando, ou rompendo unilateralmente, como defendem
os setores mais à esquerda, como ficaria essa mesma classe média? A
instabilidade orçamental levaria, inexoravelmente, ao fim do financiamento, à
impossibilidade de pagar salários e, no limite, à saída do Euro.
A casa de habitação, ou as pequenas
poupanças de milhões de portugueses, passariam a valer menos de metade. É por
isso, e não por outra qualquer razão de ordem política ou tática, que a nossa
consciência e o nosso sentido de responsabilidade determinam a aprovação do
Orçamento. Não podíamos em cima de uma crise económica, financeira e social,
ter uma crise orçamental e política.
Se o orçamento é questionável, é
inquestionável que seria pior não termos orçamento.
É evidente, que nada disto ignora, ou
pode ignorar, o drama social que a conjuntura e os momentos que vivemos representam
para tantos portugueses. Passou muito também por este debate. Mas também aí,
convém lembrar que alguns daqueles que falam em consciência social, foram os
mesmos que congelaram todas as pensões, incluindo as pensões mínimas. Este
Orçamento garante que as pensões mais baixas não serão tocadas. Como garante
a majoração dos subsídios de desemprego para os casos, infelizmente
numerosos, em que ambos os membros do casal estão desempregados.
Mais do que a afirmação retórica da
defesa do Estado Social, o que se consegue é a manutenção de políticas
sociais concretas, para pessoas em concreto.
Num Orçamento tão condicionado, foi
ainda possível preservar e manter a cláusula de salvaguarda do IMI que o PS
se tinha esquecido de introduzir no Memorando e que, felizmente, foi agora
possível proteger.
Temos consciência da necessidade de o
país ter Orçamento. Mas não ignoramos os riscos e as incertezas que pendem
sobre este Orçamento e sobre sua execução.
Para além dos fatores internos, basta
olhar para a incerteza que continua a pender sobre a situação grega, apesar
do acordo de ontem, e para a realidade espanhola, para percebermos os riscos
que a situação comporta.
Como é também preocupante verificarmos o
que está a suceder em termos europeus e a dificuldade de a Europa se entender
quanto ao seu próprio orçamento.
Por aí, pela Europa, passam grande parte
dos nossos desafios, mas seremos tão mais eficazes quanto Portugal se
apresente nesse debate, mais do que com voz grossa, com uma voz unida e firme
na defesa dos nossos interesses comuns, enquanto portugueses.
Passa por aí, e por um esforço
reformista sério e em diálogo.
Estamos dispostos e trabalharemos para
isso.
Num Orçamento tão condicionado, a nossa
opção, é um exercício livre, como escolha de quem assumiu, antes de tudo o
mais, resgatar Portugal e recuperar a nossa liberdade.
Fá-lo-emos com espírito de diálogo e
abertura democrática para as soluções necessárias, mas ancorados numa visão
construtiva do interesse nacional.
Capazes de assumir um exercício aparentemente
impossível, para que o nosso futuro seja possível.
Para que Portugal se mobilize para
voltar a crescer. Para que esta situação nunca mais se repita.
A bem de Portugal, dos Portugueses e da
Democracia.
Fonte: CDS-PP
Terça, 27 Novembro
2012
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quarta-feira, 28 de novembro de 2012
O Orçamento mais exigente, de austeridade e de rigor, com que alguma vez a democracia de confrontou.
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